sábado, 29 de março de 2008

As outras “cascas de banana”


Que vida de concurseiro não é fácil, todos nós estamos cansados de saber. É uma escolha que, muitas das vezes, traz consigo algumas renúncias difíceis. Com o tempo, a gente aprende isso.
Eu não fiz o caminho “clássico” de quem se dedica exclusivamente aos processos seletivos, que é largar o trabalho, esquecer finais de semana e mergulhar de cabeça nos concursos, com todos os seus percalços, frustrações e lances impressionantes. Larguei o dito “mercado” logo depois de me formar, e tentei realizar o sonho de seguir carreira acadêmica. Não conseguia ver bom futuro enquanto trabalhava como contratada numa fundação pública da esfera federal, com a perspectiva de ganhar pouco por quatro anos e, quando acabasse o governo, levar um belo pé no traseiro. Além disso, era subordinada a um chefe que, nomeado para o cargo por ser amigo do presidente da fundação, desconhecia sobejamente a “coisa pública” e me pressionava dia e noite para “tirar processos” com as próprias mãos de órgãos públicos e “levá-los pessoalmente” para a próxima instância em que deveriam transitar. Não havia santo que o convencesse de que isso não era possível. O que se seguiu à minha demissão a pedido foi ainda bem pior: o então presidente acabou exonerado sob uma enxurrada de denúncias de malversação de verbas públicas e investigações do Ministério Público. Não podia mesmo dar certo.

Cursei o mestrado como bolsista, bonitinha e certinha. Mas não tem jeito, amigos: há sempre um espírito de porco que vai interpelar você, perguntando o porquê de “só estar estudando”, como se isso fosse um demérito , vida fácil ou pura vagabundagem mesmo. Cansa ouvir comentários, saber de fofocas, ver a forma como as pessoas te olham. Virar concurseiro não te coloca numa situação melhor, nem te afasta desse tipo de desconforto. Apesar da minha loooooooonga experiência em conviver com esse tipo de situação, ainda escorrego nessas “cascas de banana” da vida, como se já não bastassem as que estão nas provas. Ok: nem sempre as pessoas fazem por mal, mas de boas intenções, bem sabemos, o inferno está cheio...

Hoje levei mais uma pancada dessas e foi bem ruim, até porque ainda estou me recuperando do “baque” do domingo passado, mas... que se dane! Se pudesse dar uma dica, uma única dica, seria a seguinte: você, que às vezes não tem grana nem pra passagem, que assumiu o risco e o custo emocional de seguir nessa grande aventura pública, é maior que tudo isso. Quando estivermos no cargo que queremos, levando a nossa vida da forma que sonhamos, tudo terá valido a pena. Muito. Só nós saberemos o quanto de suor e lágrimas foi empenhado nessa conquista.

... e fiquemos com as “cascas de banana” das provas, que elas já nos bastam.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Quando a mudança de estratégia não funciona


Passados tantos meses desde o último post, aqui estou de volta, e para falar de assunto bem novo pra mim: lidar com frustrações.

Durante toda a minha vida acadêmica, desde pequetita até hoje, sempre tive uma facilidade enorme pra aprender e tocar a bola. Pegar em livros quando chegava do colégio? Só por prazer. Sempre fui uma leitora compulsiva, graças ao bom Deus. Além disso, ou melhor, exatamente por isso, sempre tive um "desleixo simpático" com provas - elas nunca, jamais, me meteram medo. O máximo que conseguiram foi dar um friozinho no pé da barriga, e mesmo assim umas duas poucas vezes: detestava química e física com todas as forças de minh'alma, antipatia que me levou a renegar seus sortilégios com a convicção de um aiatolá. Ao fim e ao cabo, foram duas quase-recuperações, das quais me salvei com excelentes notas nas últimas provas do ano. Boa aluna, a moça.

No vestibular, tirei de letra e fiz bonito: 4ª colocada no curso de Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense, com direito a 10 em Português na fase discursiva. Pontos suficientes pra ter passado muito bem pra cursos "sérios", como Direito e Economia. Mas não choremos o leite derramado; tinha 18 anos recém-completos, um monte de sonhos incríveis e nenhuma idéia do quanto era séria. Mas nunca é tarde.

Vieram o mestrado, o doutorado (que abandonei por total falta de estímulo financeiro e algumas pendengas de saúde) e... voilà!, os concursos. A batalha pra alcançar o cargo público que sempre desejei se anunciava difícil de cara, e trazia no sub-texto algo bem mais dramático: estava chegando o momento em que todas as facilidades pra passar de ano e entrar na faculdade cobrariam o seu preço.

Passar em concurso não é moleza; esse último ano, março-a-março, serviu pra me dar a exata dimensão do fato inconteste. Consegui tranqüilamente algumas classificações, mas daí a ficar numa posição que torne plausível a convocação a médio prazo... só em um único processo seletivo até agora. Claro que estudei absurdamente menos que muitas pessoas que sequer conseguiram se classificar como eu, culpa daquela falta de vontade e excesso de facilidade lá de trás. Comecei a me sentir mal ao pensar que tanta gente estuda 10, 12 horas por dia pra não conseguir nada, e eu, por me dar ao luxo de não colocar uma "pressãozinha" a mais, não consigo melhores posições nos rankings. A sensação ruim foi crescendo, crescendo... e, como diria Rita Lee, "um belo dia resolvi mudar".

O concurso da CGU, realizado no último domingo, afigurou-se como um "golden dream" pra mim: realizar prova da ESAF, que sempre achei ótima, concorrendo do Rio pra uma vaga em Brasília... o que mais eu poderia querer na vida? Tinha achado o trampolim do sucesso, e pra honrar oportunidade tão... oportuna, iria me virar em 200 Flavias, fazendo o que nunca fiz: estudar mil horas por dia, até a coluna pedir arrego, os olhos doerem, os quilos se acumularem na região do abdômen e a pele ficar tom amarelo-presidiário, como meu pai, horrorizado ao me ver tão esquisita, bem definiu. Foi um tour de force sem precedentes, um delírio, um "eu vou fazer o que tem de ser feito doa a quem doer" - e doeu em mim. Na hora da prova, aconteceu uma situação totalmente nova na minha vida, embora velha conhecida de narrações treouvidas: as mãos tremiam, o coração batia descompassado, mal conseguia ler e interpretar perguntas facílimas - havia um desespero de causa no ar. Ironicamente, recorrer aos expedientes que sempre reneguei me levou a assumir a "persona" estudantil de quem habitualmente os emprega. Resultado: ao que tudo indica, estou fora do concurso por quatro questões de Português de nível de dificuldade elementar. Quando penso nelas, que errei por excesso de nervosismo e insegurança, pelo "não é possível que seja tão fácil!", sinto ganas de ser tragada pelo chão. A terceira e última "experiência" nova foi chorar de raiva até ficar parecendo um sapo.

Mas passou a ressaca, e dia 27 de abril, finalmente, temos o TJ-RJ. Já escolhi que quem vai fazer a prova é a "Flavia Versão Tradicional", de comprovada eficiência em resultados, com o pequeno diferencial de quem aprendeu na marra que, ao contrário do "Elogio da Traição" de "Calabar", nem sempre o que é bom pra fulano também é bom pra mim.