domingo, 29 de junho de 2008

O calcanhar de Aquiles


Não sei se vocês correspondem a esse padrão, mas tenho observado que todo concursando tem pelo menos uma matéria que não o deixa em paz. Quando a vê em algum edital, já pensa seriamente em deixar pra lá e nem fazer inscrição – é o seu “calcanhar de Aquiles”. Pela considerável experiência que venho adquirindo em concursos, pude ver, também, que para grande parte dos concurseiros o bicho-papão chama-se Português, Redação, Raciocínio Lógico-Quantitativo ou Matemática. Mal saberia contabilizar quantos advogados já vi reclamando de ter que estudar matérias de Ciências Exatas em concursos pra Técnico ou Analista Judiciário, mas certamente esses não foram mais numerosos do que os concurseiros egressos das mais diferentes áreas que demostraram um medo enorme de enfrentar a composição de um texto. Se fosse inimiga dos companheiros de estrada, daria risinhos malévolos; pra mim, essas três disciplinas são sinônimos de uns bons pontinhos garantidos. Mas o fato é que eu também tenho o meu “calcanhar de Aquiles”.

Quem assombra meus sonhos de aprovação é o Boi-Direito Processual-Tatá. Por mais que eu invente mil formas diferentes de memorizar os benditos ditames do Processo Civil e do Processo Penal, eles sempre me pegam na esquina. Acho os termos do “juridiquês” dessa área insondáveis; os prazos e atos, confusos. Com as repetidas tentativas improlíficas de bons resultados nessas disciplinas, acabo desanimando e deixando pra lá. Até algum tempo não havia feito muita diferença, contudo há pouco deixei de conseguir uma aprovação interessante por não ter conseguido os 50% em Processo Civil e Penal. Acendeu a luz vermelha: tem que haver solução. Mas... como sanar problemas do gênero?

Acredito que uma forma interessante de neutralizar esse problema é entender onde ele começa. Se você está enfrentando dificuldades para aprender algo novo, ainda que seja um concurseiro inteligente e loquaz, a dificuldade certamente reside no desconhecimento dos métodos para estudar a matéria. Apesar de acreditar no estudo solitário e individual, nesse momento eu capitulo e assumo que a melhor forma de resolver o impasse é ter aulas com um professor que conheça a matéria profundamente. Não vejo outro jeito. Ele vai te dar o “caminho das pedras”, e tudo ficará mais fácil. Pense bem nessa possibilidade; pode ser que um único módulo num cursinho possa resolver uma grande dor de cabeça. Concurseiro de verdade tem que matar um leão por dia, mas quando mandamos para o passado um monstrengo que nos amedronta... tudo fica mais leve!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Sobre a arte da “colegação”

Sim: a palavra entre aspas do título não existe; é um neologismo criado pelas minhas colegas de faculdade. Éramos da área de Arte e Cultura, meio em que fazer contatos é fundamental para um bom desempenho na carreira. Quando nos referíamos, pois, a duas pessoas que não se conheciam, ou se conheciam pouco, e estavam entretidas num papo animadíssimo (geralmente num evento), dizíamos que elas estavam “colegando”. Uma frivolidade típica do nosso ambiente sócio-profissional.

Espero não decepcionar os amigos que sempre param por aqui para ler a coluna, mas o fato é que eu não sou sempre “colegante”. Claro que puxo conversa em fila de banco e de supermercado, mas quando não estou numa “lua interativa”, costumo ser bem séria à primeira vista. Só me desarmo rapidamente quando vejo que converso com alguém que vale a pena papear.

Agora, imaginem a seguinte situação.

Dormi absurdamente mal na madrugada do último domingo, e acordei antes das 6 para partir em direção a mais um concurso. Chovia que era um horror no Rio, um clima chato demais. Calculei mal o tempo e cheguei muito cedo no local de prova, o que resultou numa longa hora em pé, debaixo de uma marquise, esperando os portões abrirem. Neste ínterim, aparece uma criatura do meu lado doida para “colegar” comigo. Ai ai ai. Sono, frio, mau-humor matinal... e alguém me falando que veio de não sei onde fazer prova no Rio, com a maior cara de que estava ali por acaso! Uma maçada, como se dizia no século XIX. A última frase foi uma perguntinha cretina: “Tá animada pra prova?” Respondam-me, por favor: que tipo de pessoa pergunta se você está “animado” pra uma prova? Adjetivos pra concursando, nessas circunstâncias, se resumem a “preparado”, “concentrado” e “tranqüilo”. Ou eu tinha me confundido e estava na porta de uma boate? Uma rave? Não, não estava. Por delicadeza, respondi um “vamos ver” e voltei a minha ensimesmação.

Não demorou para que o candidato a “colegante” provasse que era mesmo um mala-sem-alça. Quando a platéia aumentou, desandou a discursar que, para o cargo a que concorríamos, era preciso apresentar um certificado de curso de não-sei-o-quê no momento da posse. Eu e mais duas pessoas dizíamos que não, e ele insistia de forma azucrinante. Não agüentei e respondi que, bem, se ele achava que era aquilo, ok. É, meus amigos: o “colegante” não tinha lido o edital e não sabia nem pronunciar o nome do cargo a que estava concorrendo. Salvo mau juízo, era uma daquelas figuras que desabam sabe Deus de onde na hora da verdade, entoando o mantra “de repente eu dou uma sorte e passo”.

Sei que estou azedinha hoje, e que a culpa sequer foi exclusiva do candidato a “colegação” (uma “rezadora” na sala de prova contribuiu muito – manja aquelas pessoas que sussurram o que lêem como se rezassem um Pai Nosso?), mas não há nada mais irritante do que se dar conta de que ainda existem pessoas que “brincam” de fazer concurso público. Caramba! Um concurseiro sério, que se vira do avesso pra arcar com os custos dessa corrida, estuda 8 horas por dia, larga emprego ou, pior, trabalha de dia e estuda de madrugada, se sente no mínimo desconfortável quando vê alguém profanando o objeto de sua concentração com tanta desídia. Não que eu nunca tenha feito provas por fazer, pra ver qual é... mas pelo menos tinha a decência de abordar as pessoas de forma a aprender com elas, mostrando minhas impressões com alguma humildade! Agir de outra forma seria ofendê-las.

Peço mil desculpas pelo desabafo, mas tem dia que cansa. Ah, e pelo amor de Deus, não tenham receio de me abordar numa fila de prova: eu sempre guardo um sorriso no bolso pr'aqueles que estão verdadeiramente caminhando na mesma direção que eu!