Na Constituição Federal de 1988, estão previstos alguns crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia. São eles o terrorismo, a prática de tortura, o tráfico de drogas e os hediondos.
Há crimes que, fosse eu o constituinte, incluiria nesse inciso tão importante para a segurança do Estado e de seus cidadãos. Chamaria tais crimes de "covardes".
E o que seria um crime covarde?
Aquele que, por sua natureza torpe, torna o ofendido incapaz de recorrer de forma equânime aos seus direitos. Não sou advogada e meu conhecimento de leis é medíocre, restringindo-se tão-somente ao necessário para os concursos públicos, e talvez por isso mesmo me ocorra qualificar algo tão absurdamente corriqueiro em nosso país quanto indício de fraudes nesses certames.
Hoje é domingo, e centenas de milhares de pessoas, Brasil afora, deslocavam-se às suas próprias expensas para Brasília, onde realizariam o tão esperado concurso da Polícia Rodoviária Federal. Um policial rodoviário federal, sabemos nós, ganha bem, mas se expõe a riscos enormes. Está armado e fardado à beira de uma estrada que, muitas vezes, sequer fica próxima de áreas urbanas. Se há ou não corrupção, propina ou coisa que o valha, não é o caso de julgarmos agora. Para desempenhar esse trabalho tão fundamental num país de dimensões grandiosas, onde o transporte de bens de consumo, alimentos e pessoas se faz majoritariamente pela malha rodoviária, homens e mulheres despenderam somas altas em cursos preparatórios, passagens e hospedagem para o primeiro e imprescindível passo da jornada: a prova do concurso público. Enfrentaram caos aéreo, caminhos esburacados e inseguros onde, quem sabe?, um dia poderão estar trabalhando, pediram dinheiro emprestado a amigos, pais e bancos, tudo para materializar a expectativa de um dia ter aquele emprego.
No meio do caminho, ou já cumprido o percurso, a notícia de que todo o esforço de nada tinha valido: a prova da organizadora NCE, tão temida e tão cara, havia "vazado" pelas mãos bem pagas de alguém que não lega nenhuma dignidade à função pública. Voltem pra casa, desarmem seus espíritos, retornem daqui a um mês. Simples assim. Quiseram vir fazer a prova? Problema de vocês! No edital estava claro o local de realização, e que a locomoção ficava por conta do candidato. A regra só não dizia que fraudes aconteceriam.
Não me inscrevi no concurso da Polícia Rodoviária Federal. Tenho consciência das minhas limitações, e sei que viveria menos num trabalho que exige tanto do corpo. Estou, no entanto, a uma semana de outra prova, a do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, realizada pela mesma NCE. Nas comunidades existentes em sites de relacionamentos, leio comentários sobre prováveis fraudes e vendas de gabarito em certames anteriores e futuros da organizadora. Fatos que falam por si só, mas carecem de "provas". Ao fim e ao cabo, reina um cinismo desconcertante, que tudo vê e nada constata. Esse é o grande crime de covardia.
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2 comentários:
Ao que me parece, os baldes de água fria fazem parte da vida daqueles que almejam o serviço público. Que dê mais força aos íntegros para que passem e não deixem passar. Aos poucos, tenho fé, deixaremos de ver e contar e atuaremos.
Graças a Deus eu não fiz a inscrição pra essa prova, senão teria comprado as passagens com antecedência e me ferraria por antecedência também, pq nesse mesmo dia 9/12 eu fui fazer a 2º fase do Escrevente Técnico Judiciário da 46º Comarca de São Paulo e aí é lógico que preferiria fazer a 2º fase, mas daí eu já teria perdido o dinheiro da futura viagem.
*Sacanagem que esse, q ainda não foi, foi o último concurso da PRF pra nível médio...q triste..mto triste rsrs
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